As aulas de pintura que tive na adolescência eram momentos mágicos. Costumava
chegava ao atelier a meio da tarde e por lá ficava até escurecer. Por vezes
íamos para a beira do Tejo desenhar com pequenos pauzinhos de carvão. Quando a
mão fugia, apagávamos com miolo de pão!
Lembro-me que a minha professora não gostava particularmente da
palavra inspiração. "A pintura para
mim não é um passatempo, é uma exigência.", dizia sempre. A mão
e os olhos precisam de ser educados.
O porte elegante, porém austero e despojado, da Maria Lucília Moita sentada
em frente ao cavalete e o cheiro dos óleos inebriavam-me. As cores que usava
não eram vibrantes, mas eram verdadeiras, cruas. A natureza que mais gostava de
pintar não era feita de flores e passarinhos, era feita de velhos troncos de
oliveira e de pedras gastas pelo tempo. O
atelier onde generosamente me ensinou a pintar (e a olhar) não fazia parte
deste mundo e o que lá aprendi foi tanto.
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"Casas Brancas de Carreiras" (1972) - Maria Lucília Moita |
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Auto-retrato - Maria Lucília Moita |
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Maria Lucília Moita - 1994 | | |