Viajar obriga-nos a sair da concha em que vivemos
todos os dias. Conhecemos-lhe todos os cantos, a cor e o cheiro. Sentimo-nos confortáveis
dentro dela, mas por vezes tentamos espreguiçar-nos e não temos espaço para
esticar bem os braços. Quando essa concha abre, todo um mundo novo surge à
nossa volta.
Embora o entusiasmo que normalmente antecede o
planeamento de cada viagem estivesse um pouco apagado desta vez, ao longo dos dias em que
estive pela Polónia tentei lembrar-me sempre de alguns dos meus versos
preferidos:
“(…)
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
(…)”
(“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando
Pessoa)
Calcorreámos a Polónia e percebemos que por
aqueles lados, as marcas deixadas pelo Bloco de Leste convivem de forma harmoniosa
com uma sociedade muito ocidentalizada, claramente europeia. Também percebemos
que a religiosidade, sempre presente, dá uma certa personalidade àquele país entalado
entre várias religiões, que as baixas temperaturas que se sentem no Inverno
ditam uma certa forma de comer, que além de um país, a Polónia é uma ponte de
passagem para outro mundo, tal é a diversidade de matrículas que se cruzam com
a nossa. Percebemos acima de tudo que aquele é um povo de força e coragem, que teve uma enorme capacidade de renascer das cinzas e de se reconstruir.
Depois Berlim, uma cidade que não conhecia e à
qual é urgente voltar. A diversidade de culturas, a omnipresença de tantos
movimentos artísticos e a calma com que se vive naquela cidade despertaram-me
sensações que não conhecia. Quero conhecer mais, muito mais!